Cheirar é Aprender: O Papel do Olfato canino

cachorro latindo para o nada

Introdução: O aprendizado começa pelo nariz

O olfato canino é mais do que uma ferramenta sensorial — é a base do aprendizado e da comunicação dos cães. Desde filhotes, os cachorros exploram o mundo com o nariz, formando suas primeiras experiências cognitivas através dos cheiros. No entanto, muitos tutores ainda não compreendem o impacto direto que a liberdade olfativa tem no desenvolvimento comportamental e emocional dos cães.

Neste artigo, vamos explorar a fundo como o ato de cheirar influencia o desenvolvimento dos cães, o que dizem os estudos e por que o simples hábito de deixar o cão cheirar tudo durante o passeio pode ser decisivo para a inteligência, equilíbrio emocional e sociabilidade do seu pet.


A importância do olfato em cães no início da vida

A “importância do olfato em cães” aparece no início e será reforçada mais adiante.

Filhotes de cães nascem cegos e surdos — o único sentido funcional nos primeiros dias é o olfato. Eles usam o cheiro da mãe para encontrar as mamas, identificar irmãos de ninhada e começar a formar sua percepção do ambiente. Isso já revela como o desenvolvimento emocional e físico está profundamente enraizado no olfato.

Durante a fase de socialização (3 a 14 semanas), permitir que o filhote explore diversos cheiros é essencial para que ele se torne um cão equilibrado. Ambientes restritivos ou passeios controlados demais podem limitar essa fase crítica de aprendizado.


O cérebro do cão é programado para aprender com o nariz

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A área do cérebro dos cães dedicada ao olfato é extremamente desenvolvida. Quando um cão fareja, diversas regiões neurais são ativadas:

  • O hipocampo (memória)
  • A amígdala (emoções)
  • O córtex olfativo (interpretação de cheiros)

Isso significa que cada cheiro novo que o cão encontra é processado como uma memória emocional complexa, contribuindo para sua aprendizagem social e cognitiva.

Ao longo da vida, o cão usa o olfato para reconhecer familiares, identificar rivais, entender seu território e até prever estados emocionais de outros animais e pessoas.


Por que deixar o cachorro cheirar tudo é essencial para o desenvolvimento?

Durante o passeio, o ato de cheirar funciona como:

Um estímulo mental constante

Ao ser exposto a novos cheiros, o cão estimula áreas cerebrais responsáveis por memória e aprendizado.

Ferramenta de autoconfiança

Cheirar livremente ajuda o cão a tomar decisões sozinho, melhorando sua segurança e independência.

Enriquecimento sensorial

Explorar o ambiente por meio do olfato reduz o tédio e o estresse, permitindo que o cão desenvolva comportamentos mais equilibrados.

Interação social e linguagem química

Cães se comunicam através de feromônios e odores. Cada cheiro transmite mensagens sociais — quem passou por ali, com que idade, sexo, humor e até o que comeu.


O que dizem os especialistas?

Um estudo da Universidade de Pisa, na Itália, mostrou que cães expostos a rotinas com estímulos olfativos diversos apresentaram melhoras cognitivas e emocionais significativas, além de maior curiosidade, menos medo de ambientes novos e melhor sociabilidade com humanos e outros cães.

Já a Royal Veterinary College, no Reino Unido, defende que filhotes privados de experiências olfativas ricas tendem a se tornar cães ansiosos, reativos e com dificuldades de adaptação.


Como estimular o olfato de forma inteligente

Dicas para o passeio:

  • Não tenha pressa: permita que seu cão explore cada árvore, muro ou poste à vontade
  • Mude a rota: variar o caminho expõe o pet a novos cheiros e experiências
  • Evite sempre os mesmos horários: cada horário do dia oferece aromas diferentes

Atividades complementares:

  • Tapetes de farejar (snuffle mats)
  • Brinquedos recheáveis com aromas naturais
  • Esconde-esconde com petiscos no quintal

Essas práticas ampliam o estímulo mental para cachorros, promovendo maior equilíbrio emocional e comportamental.


Curiosidade científica: cheiros ajudam a consolidar memórias

Estudos mostram que o olfato está diretamente relacionado à formação de memórias de longo prazo. Isso significa que um cão que explora o mundo por meio do olfato desenvolve mais conexões neurais estáveis, o que o torna mais inteligente, adaptável e resiliente.

Essa conexão entre memória e olfato é semelhante à que ocorre com os humanos — por exemplo, quando sentimos um cheiro que nos transporta à infância. Os cães vivem isso constantemente, pois seus cérebros são programados para armazenar informações baseadas no cheiro.


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Veja nosso artigo completo sobre A Neurociência do Olfato Canino e o Impacto nos Passeios Diários

Uma descoberta surpreendente da neurociência animal é que os cães literalmente “veem com o nariz”. Pesquisadores da Emory University, nos Estados Unidos, usaram ressonância magnética funcional para observar o cérebro canino durante estímulos olfativos. O resultado foi surpreendente: a área visual do cérebro também se ativa enquanto os cães farejam.

Isso sugere que, para os cães, cheirar e ver são sensações interligadas — o olfato fornece uma imagem quase tridimensional do ambiente. É como se, ao farejar um rastro, o cão “visse” a cena: quem passou, quando passou, com qual humor, o que carregava…

Essa informação muda tudo. Quando você impede seu cão de farejar, não está apenas bloqueando um comportamento — está reduzindo a capacidade dele de “ver” o mundo com clareza.


Cães detectam emoções humanas pelo cheiro

Você sabia que os cães conseguem identificar seu estado emocional apenas pelo odor?

Pesquisadores da Universidade de Nápoles descobriram que cães expostos ao suor de humanos em momentos de medo ou alegria reagiam de forma diferente: os odores do medo ativavam reações de alerta, enquanto os odores da alegria causavam relaxamento e aproximação.

Ou seja, durante o passeio, ao sentir os odores de outros humanos (e do tutor), o cão pode ajustar seu comportamento emocional com base nessas pistas químicas.

Isso reforça a importância do passeio olfativo como uma via de comunicação social complexa, não apenas uma atividade física.


O nariz canino é mais preciso que um teste de laboratório

O poder do olfato em cães não se limita ao ambiente — ele também é usado em ambientes hospitalares e de resgate.

Cães farejadores já foram treinados para detectar COVID-19, malária, diabetes, câncer de pulmão, ovário e próstata com precisão de até 95%, segundo o Medical Detection Dogs (Reino Unido).

Essa capacidade de identificar compostos químicos complexos em concentrações mínimas está diretamente ligada ao hábito natural de cheirar tudo, inclusive durante os passeios. Cada nova caminhada é, para o cão, um “laboratório sensorial”.


Dica prática: passeio focado no olfato uma vez por semana

Além dos passeios normais, você pode introduzir na rotina o “passeio olfativo guiado”. Uma vez por semana, leve o cão para um ambiente novo (praça, parque, trilha segura) com o único objetivo de deixá-lo explorar e farejar com calma, sem pressa.

Esse tipo de passeio é ideal para cães:

  • Com histórico de ansiedade
  • Que ficaram muito tempo sozinhos
  • Idosos ou com baixa energia
  • Que passaram por mudanças na rotina

O resultado é visível: cães mais relaxados, satisfeitos e conectados com o tutor.


Farejar como forma de meditação canina

Enquanto os humanos meditam para se acalmar e se conectar com o presente, os cães meditam com o nariz.

Quando um cão está profundamente focado em um cheiro, ele entra em um estado de concentração plena. Esse comportamento reduz o ritmo cardíaco, regulariza a respiração e diminui a atividade do sistema nervoso simpático (responsável por reações de estresse).

Ou seja, ao permitir que seu cão cheire livremente, você está oferecendo a ele uma forma natural de mindfulness canino.


Conclusão: Aprender pelo nariz é aprender com profundidade

O desenvolvimento comportamental dos cães começa — e se fortalece — pelo olfato. Quando você permite que seu cachorro cheire livremente durante o passeio, está promovendo um aprendizado natural, profundo e contínuo. Está dando ao seu cão as ferramentas para ser emocionalmente equilibrado, socialmente seguro e cognitivamente afiado.

Não é exagero dizer que, ao estimular o olfato, você está moldando o caráter do seu cão. Portanto, transforme o passeio diário em uma jornada de aprendizado — e comece pelo nariz.

Maria Fernanda é a criadora do blog Meu Pet Amor, um espaço dedicado a todos que enxergam seus animais de estimação como parte da família. Apaixonada por pets e movida pelo desejo de promover o bem-estar animal, ela compartilha conteúdos informativos, experiências pessoais e dicas valiosas para ajudar tutores a cuidarem melhor de seus companheiros. Com uma linguagem acessível e acolhedora, Maria Fernanda transforma conhecimento em carinho e orientações práticas em gestos de amor pelos animais.

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